Em minha opinião ela foi à melhor Drag do Brasil.
Saudades eternas dessa que foi estupenda e magnífica. Verônika foi à fonte de inspiração de muitas, infelizmente teve sua trajetória na terra encerrada. Foi a pioneira no meio drag queen a inovar em termos de maquiagens e figurinos, ali surgia a famosa top drag que hoje também é sucesso entre várias. Nascida em Jacareí, Ailton Leite, nome de nascimento, começou na noite paulista no clube Nostromundo em 1992. Desde então, se apresentou pelos clubes Level, Massivo, Gent's e Ultralounge, sempre com sua graça, beleza, montação e jogação de cabelo. Em 2002, participou de um show no palco do Teatro Municipal durante a entrega do prêmio "Melhores da Noite Ilustrada", organizada por Erika Palomino. Verônika também foi eleita por três vezes consecutivas (2000; 2001 e 2002) como a melhor drag da noite paulistana.
Drag Verônica definia seu estilo como "sadomasoquista na linha soft pornô". Traduzindo: adorava Madonna, de quem foi cover logo no início de carreira, há quatorze anos em São José dos Campos. Quando se produzia para sair, Verônica era caprichosa e não dispensva artifícios para temperar a conquista – costumava recorrer a luvas pretas e botas de salto fino. Sua atitude era a de quem acha que todo dia é dia de seduzir e de quem sabia que os fãs estavam por aí, sempre atentos. Os "fãs" costumam ser gays, homens, simpatizantes e entendidas [lésbicas], freqüentadores dos shows nas boates da zona sul de São Paulo onde a drag se apresentava. A personagem interpretada por Aílton Leite absorveu detalhes visuais dos anos 70 e das musas do cinema até chegar ao que foi.- "Já não nos preocupamos mais em mudar o nosso corpo, implantando silicone, como se fazia no passado", dizia.- "Somos homens e gostamos do que somos. E mais importante: quem nos vê, também gosta do que somos." Verônica não tinha certeza se as mulheres, hoje, sabem o que são e se gostam do que enxergam em si mesmas. Passa por aí, pela auto-estima meio fragilizada e pela confusão do papel feminino na sociedade, a crítica que a drag faz ao comportamento das mulheres em seus relacionamentos. --"Há poucas 'mulheres-veadas' no mundo, aquele tipo de fêmea que reúne, em uma única personalidade, inteligência, charme e poder, a exemplo de Madonna e Brigitte Bardot", disse.- "Hoje as mulheres dão destaque somente ao seu lado profissional, esquecem de assumir uma atitude mais forte em todos os sentidos. É compreensível, já que elas têm que lutar lado a lado com os homens no mercado de trabalho – e as mulheres são sempre melhores e mais competentes que eles. E, aí, são obrigadas a se fazer de pedra bruta. Não percebem que, o que conta, na verdade, é o polimento dado pelo algo mais que a mulher tem e que pode transformá-la em cristal." Verônica dizia que os homens estavam sempre procurando nas drags os principais atributos da mulher. "A nossa característica mais forte é o aspecto feminino de não assediar acintosamente os homens, mas sim de forma sutil e delicada", afirmava ela. "Por outro lado, dependendo do momento, liberamos o que a mulher costuma travar." O jeito de seduzir depende do estado de espírito, reforçava ela, assim como a reação à sedução. A drag citava sempre dois tipos de cantadas que levou de homens que se encantaram com ela: uma grosseira e uma bacana. A primeira foi dada por um policial rodoviário, que a havia flagrado em alta velocidade. "Estava atrasada para um show e, por isso, usei todo o meu charme para tentar me livrar rapidamente da fiscalização", lembra. "Só que exagerei no charme: o guarda gostou demais do meu tipo, pediu para que eu saísse do carro, dizendo que me livraria da multa se eu fosse 'boazinha' com ele. Preferi a multa." Em uma segunda ocasião, foi cantada por uma personalidade cujo nome não quer revelar. O famoso começou com um elogio ("Que coisa maravilhosa!"), passou para uma cantada ("Se você está linda aqui fico imaginando o que poderia fazer entre quatro paredes") e a história foi acabar no quarto. Qual a diferença entre a primeira e a segunda cantada? "No meu caso, especificamente, depende do meu estado de espírito na ocasião", dizia. "Às vezes quero ser mais careta, controlada; em outros casos quero liberar tudo sem limites." As regras não valem, obviamente, quando o assunto é relacionamento. Nesse caso, a coisa muda de figura. A própria Verônica admite que drags são pessoas mais complicadas afetivamente do que os homens e mulheres. "Somos problema na certa", afirma. "As pessoas que se envolvem conosco mal sabem o enrosco em que estão se metendo".